1. Um Caminho



Qual o limite entre céu e mar? Entre chão e ar?

Ao longo da vida, em vários momentos, somos desafiados a escolher um caminho.

No início, apesar de muitas dessas escolhas serem determinadas por nossos pais, mesmo inconscientemente nós manifestamos nossas preferências: não seguimos no esporte que não curtimos (resistência); imploramos pelo instrumento musical que nos deslumbra (insistência); temos, cada um, as disciplinas escolares que amamos odiar ou que odiamos amar (existência).

Dentre tantos caminhos a seguir, normalmente a escolha do que fazer no vestibular mostra-se uma das mais marcantes. Uma escolha que pode determinar toda uma vida profissional, (de êxito ou hesitante) por mais que idas e vindas possam e certamente irão ocorrer.

Talvez seja a primeira grande escolha da passagem da vida infantil (pueril) para a vida adulta (de luta), mesmo sabendo que há um grande limbo chamado juventude (inquietude), entre essas vidas (divididas).  

O que eu vou ser quando crescer?
Tenho que fazer essa opção sozinho?
Como é difícil ter que escolher
Como é difícil trilhar um caminho

Passado o momento da decisão de que caminho profissional começar a seguir, surgem novas bifurcações para outros rumos: portas se abrindo e outras se fechando; portos surgindo e outros distanciando.

Acho que foi a partir desse momento, que tomei a consciência mais clara de algo que sempre me afligiu no momento de fazer uma escolha: todo anúncio é uma renúncia. Todo caminho que escolhemos significa a renúncia de dezenas de outros caminhos pela impossibilidade prática e enfática de percorrermos todos. Aí é que sempre esteve um nó, para mim.

Mas quando eu tomar uma decisão
O que ela representará?
Será necessário abrir mão
De outros rumos que quero trilhar?

Porque a vida inteira tendo a tentar conciliar vários caminhos, muitas vezes incompatíveis entre si. Queria curtir a noite e acordar cedo para surfar (não se pode surfar duas ondas diferentes ao mesmo tempo). Ou passar em 4 festas de aniversário na mesma noite (em abril, principalmente, há vários aniversariantes – será que é por que 9 meses antes é o inverno?). Participar de várias festas de Natal. Ter várias profissões.

Às vezes fico meio perdido com a quantidade de caminhos que temos à nossa disposição. E a incapacidade de renunciar, muitas vezes, traz o fantasma da indecisão; que por sua vez carrega o monstro da estagnação.

Será que tenho que ser um só?
Se há tantos dentro de mim
Como posso desatar esse nó?
Se são vários “nãos” quando digo um sim

Nesse sentido, me parece essencial um mergulho no autoconhecimento. Dar ouvidos ao coração, sem abrir mão do bom senso. Equilíbrio difícil... Dilema ébrio imenso. Pois frequentemente certos caminhos surgem tão naturalmente e são tão promissores que fica complicado negar a caminhada (uma burrada?!).

O problema é quando esse caminho oportuno – uno – não é o escolhido pelo coração. Acabamos seguindo por ele meio contrariados, em um passo lento, agressivo, desolado. Mas tememos muito renunciar a esta estrada perfeita que surgiu. Hesitamos em abrir mão, pois a busca pela maturidade traz a consciência de que constantemente certos sonhos mais pertencem ao mundo da idealização do que da possibilidade da concretização efetiva (viva). Porém, nosso coração fica ali, bombeando sinais de que algo não está se encaixando totalmente naquela trilha perfeita (atalho falho).

E se a decisão não for certa
E eu deixar um sonho pra trás
Encontrarei na estrada deserta
Um alento para falta de paz?

Por outro lado, quando um sonho tem consistência (resistência, insistência, persistência – existência!), mesmo que em alguns momentos permaneça adormecido, chegará a hora (agora) em que ele nos empurrará inevitavelmente para aquele caminho. E dar oportunidade para esse sonho, pode representar a distinção entre a realização pessoal e o arrependimento eterno.

Ou sempre será possível
Dar chance ao que nos fascina?
Tornando o improvável, crível
Despertando do sono, a sina

Li recentemente em um livro do Humberto Gessinger (líder dos Engenheiros do Hawaii – banda de rock dos anos 80) uma citação à famosa parábola em que o discípulo pergunta para seu mestre o que fazer para alcançar seu objetivo, ao que o mestre responde: “desista!”. No livro, Gessinger reflete que enxerga nesse “desistir” na verdade, um teste do mestre, que pretende verificar se existe ali um sonho genuíno (um hino), uma vontade legítima (íntima), uma garra capaz de suportar os percalços (guerra) e enfrentar as barreiras inerentes à caminhada (trincheiras) para se chegar a qualquer lugar, mesmo que muitos fatores conspirem contra (afronta).

É desse tipo de sonho que estou falando. Daqueles que permanecem vivos, mesmo diante dos conselhos de que é bobagem, das sugestões de é preciso “ter os pés no chão” (razão?).

Importante aqui também compreender que ao dar oportunidade para concretização desse sonho, daqueles que nos tiram o sono e do qual não fomos capazes de abandonar, certamente ele não se realizará da forma idealizada, do jeitinho sonhado.

A vida real é possível, mas a vida ideal só existe no mundo das idéias.

Sim, é possível tornar
O sonho em algo real
Sabendo que ele não será
Cem por cento ideal

No fim das contas, acredito que com persistência e bom senso, é possível seguir adiante por caminhos mais seguros e caminhos paralelos, já que, como dizem, para caminhar é necessário um pé no chão e outro no ar: com os dois no chão, ficamos parados e com os dois no ar, caímos.

E a consciência de que estamos trilhando um caminho de sonho, do qual é impossível abrir mão, é uma sensação indescritível.

Os sonhos não são incompatíveis
Com a mão concreta da vida
São igualmente imprescindíveis
Para nós, o ar e a comida

Sds,

Hugo

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