8. A música do mês. Setembro. SEGURO

SEGURO

Eu não preciso do carro do ano
Eu não preciso de roupa de grife
Eu não preciso beber o uísque mais caro na área mais vip

Eu não preciso de um AP decorado
Pelo arquiteto mais chique
Eu não preciso andar abraçado e enturmado com os donos da boutique

Eu não preciso do doce importado
Eu não preciso de tapa ou de bala
Eu não preciso de um corpo esculpido e forjado pela bomba aplicada


Eu não preciso do cargo mais bala
Eu não preciso da mulher mais bela
Eu não preciso de estátua, de status, de nada
Não preciso dela

Pra me sentir seguro
Pra me sentir o cara
Eu só preciso lembrar que somos todos iguais
E que ninguém se compara
Pra me sentir seguro
Pra me sentir o cara
Eu só preciso saber que sou só um a mais
E a pessoa mais rara

SEGURO” é a 4ª música gravada em parceria com Yonsen Maia.

Para ouvi-la, clique no "player" acima (não esqueça dos fones de ouvido):

Como todas as outras três (e as seis que ainda estão por vir), componho letra e melodia e concebo uma linha de arranjos que são construídos com o talento, a técnica e a excelência dele.

Compus esta música há alguns anos atrás, buscando refletir um pouco sobre a auto-estima e o que determina seus melhores e piores momentos.

O significado de auto-estima no dicionário é literalmente “a aceitação que o indivíduo tem de si mesmo”.

Porém, ironicamente, podemos observar que de forma muito freqüente colocamos a “aceitação que temos de nós mesmos” na mão do outro. De acordo com o julgamento que as pessoas que nos cercam fazem da gente, elevamos ou diminuímos nossa auto-estima.

E isso talvez seja realmente tão contraditório quanto parece ser. Porque se auto-estima quer dizer aceitação que o indivíduo tem de si mesmo, então só cabe a cada um de nós saber o quanto nós nos aceitamos, da forma que somos. O problema é que muitas vezes não sabemos ao certo quem realmente somos e o que realmente queremos. Aí a solução é entregar a tarefa para o “outro”, pois a busca pelo autoconhecimento de uma forma profunda é um caminho árduo e demorado para ser percorrido.

Colocando a nossa própria aceitação nas mãos do outro, inevitavelmente, passamos a ser presas fáceis dos valores predominantes dos grupos sociais que nos cercam. E numa sociedade que tem valorizado mais o “ter” (e cada vez mais o “parecer” – tema da música do mês que vem) em detrimento do “ser”, podemos de repente perceber que nossa auto-estima está cada vez mais sujeita ao carro que compramos; ao cargo que conquistamos; ao corpo que apresentamos ou às fugas que utilizamos.

É claro que não há nada de errado em ambicionar conquistas materiais, profissionais, estéticas, hedonistas. O problema é quando valorizamos quem somos de acordo com conquistas, que mais visam corresponder uma expectativa alheia do que um desejo próprio. Pois mesmo que obtenhamos tais conquistas, é provável que nada daquilo nos complete efetivamente.

E é aí que entra a questão do autoconhecimento. Sabendo quem sou, o que quero e, principalmente, porque quero, é que conseguirei me sentir seguro ou não independentemente do julgamento alheio.

E lembrando que meus anseios personalíssimos estão diretamente ligados a talento e empenho, exclusivamente meus, mas também às fraquezas e limites, inerentes apenas a mim, poderei compreender a virtual contradição de ser tão raro quanto o outro, me afastando da tola tentação comparativa, frequentemente baseada em valores com os quais não me identifico.

Sds,

Hugo

PS: 1: Interpretar a própria criação não é algo muito indicado a se fazer, pois mesmo a mais explícita das letras pode ensejar reflexões e conclusões diferentes, por pessoas mais raras. Portanto que esta seja apenas uma versão dos fatos; uma vez apresentada, a música passa a ser mais de quem ouve do que de quem compôs.

PS 2: Ainda acho que a música por si só diz muito mais do que qualquer texto.

Comentários

  1. O player às vezes não funciona comigo quando acesso o blog pelo firefox. Quando acesso o blog pelo internet explorer, é pior, dá erro e nem leio a postagem nova. Com alguém mais?

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