47. IMPUNIDADE DEMOCRÁTICA
fonte da foto: http://www.dci.com.br/imagens/fotos/2013/9/celso-de-mello-mensalao-ministro-e11r318165930-f3.jpg
Chega a ser bem engraçado
Ver o povo hoje indignado
Gente que era tão conivente
Com corrupção em passado recente
Falam de vergonha e revolta
Com postura enfurecida se mostram
Mas a raiva parece ser mais com o agente
Do que com o fato, especificamente
O problema parece ser o personagem
Beneficiado na tradicional impunidade
Pois antes passavam totalmente batidos
Quando se deparavam com
governantes bandidos
Estou
dividido entre dois pontos de vistas. O de defender e o de não defender a impunidade
dos corruptos do PT.
Por
um lado, e este é o lado que tem sobressaído ultimamente por ser o mais
coerente, defendo, de maneira óbvia, que não podemos nos render à simpatia
partidária e/ou à antipatia com determinada ala política para maneirarmos ou
exacerbarmos sobre a corrupção de políticos a depender do setor que representem.
Aliás,
acredito que o cidadão deve ser sempre oposição. Independentemente de quem esteja no
poder. Porque o poder público tem que ser sempre cobrado a melhorar e nunca
pode haver permissividade com suas faltas, de competência ou de moral.
Roubou,
tem que ser preso, independentemente da cor do partido. E essa frase, mais do
que uma frase por demais clara, deve ser exercitada na discussão do dia a dia,
no debate na mesa de bar, para não sermos pegos (pela nossa consciência) analisando
com dois pesos e duas medidas os desvios de caráter dos governantes, a depender
da cor da camisa ou da linha ideológica.
Mas
por outro lado...
Por
outro lado, e esse lado pode ser um lado por demais controverso, observo que a
chegada PT ao poder, apesar de ter sido orquestrada com tons de rosa bebê
através de um “Lulinha Paz e Amor”, representou sim, sem sombra de dúvidas, com
toda certeza, uma inversão das forças políticas que detinham o poder de uma
forma geral no país.
Apesar
das alianças espúrias com gente que nunca saiu do poder, como Malufs e Sarneys
da vida, a chegada do PT ao poder mudou a cara de quem dava as cartas do poder
no Brasil.
O PT
no poder trouxe outros grupos para mamarem no Estado, diferentemente dos que
estavam acostumados. Desde o perfil dos funcionários que preenchiam os cargos
de livre nomeação até as empresas que estão ganhando licitações fraudadas para
tocarem obras superfaturadas, o eixo mudou.
E
isso não foi digerido por um monte de gente que dava as cartas ou que
simpatizava com quem dava as cartas.
Pois
eu confesso, que deixo escapar um risinho de canto
de boca quando vejo gente que nunca reclamou da corrupção dos ocupantes do
poder de 10 anos atrás, se mostrar indignadíssima com a corrupção descoberta do
PT. Gente que nunca esboçou uma linha de indignação contra a impunidade dos
políticos de 10 anos atrás, negociada de forma vergonhosa no Poder Judiciário,
na Polícia Federal e no Ministério Público (cujo representante máximo, era
conhecido, vejam só, como “engavetador geral da república), agora clamando nas
redes sociais que o futuro do Brasil foi machado pelo STF, que envergonhou de
forma irreversível os “brasileiros honrados”.
Gente,
inclusive, que frequenta, se relaciona, e negocia com representantes de forças
políticas tão ou mais corruptas do que o PT, mas que declara estar “enojada” com
o Judiciário.
O mesmo risinho de canto de boca aparece
quando vejo na imprensa a mesma indignação externada da forma mais panfletária
possível através de editoriais de pretensos veículos imparciais.
O PT
no poder, e toda sua desonestidade, incompetência, autoritarismo, mexeu com a
autoestima de grupos, (por que não utilizar o termo?), que se consideram elite.
Uma
parcela da população que não engole de forma alguma a chegada ao poder de um
grupo que não reconheça como par. Ver esse novo grupo exercendo o poder,
fraudando licitações, enriquecendo com dinheiro público e saindo impune através
de decisões judiciais que – independentemente da técnica jurídica ali discutida
– soam imorais, é por demais revoltante. Esse
novo grupo não tinha esse direito! Esse direito era exclusivo aos meus pares!
Vergonha!!!
Questiono
sinceramente se os indignados de hoje estariam tão indignados caso fossem
outros os réus do processo do mensalão. E se a resposta for uma honesta
negativa, sugiro a reflexão do por que. Apenas um mero reflexo emocional legítimo de torcer
menos contra aqueles a quem somos simpáticos? Ou seria algo ainda mais forte do
que isso? Em vez de indignação, será que não haveria uma indiferença ou até
mesmo uma conivência com a corrupção de grupos com os quais se sentem
representados?
A
impunidade (ou o adiamento protelatório da punição) dos políticos do PT,
confirmada nesta tarde pelo STF, representa que finalmente a democratização do
poder no país chegou à sua forma mais plena.
***
Observação:
torço mesmo pela punição dos petistas no STF. Como sou otimista e tento ver o
melhor lado de tudo, mesmo reconhecendo o lado nefasto no fato da inédita
punição recair justamente sobre os primeiros corruptos representativos do lado
mais à esquerda da política brasileira, vislumbro um elemento ironicamente
positivo nesta condenação: se foi preciso que a esquerda chegasse ao poder para
abrir um precedente de condenação a políticos corruptos pelo STF, que a
esquerda cumpra então esta “nobre” missão.
Do contrário, seria tão incoerente quanto, me portando como o indignado de ontem, que ficou conivente hoje.
Sds,
Hugo
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