Micro Conto 01 - Capítulo 5
Ele
foi levado ainda encapuzado para o interior de uma casa. Tentando ficar atento
a todos os detalhes, sentiu cheiro de mato, percebeu que não subiram elevador e
ouviu o latido de cachorros ao longe. Dentro da casa, depois de alguns passos,
foi colocado numa cadeira quando ouviu uma voz dizer. “OK, pode tirar o capuz”.
Ao voltar a enxergar, se viu diante do seguinte cenário: estava num pequeno
cômodo, sem janelas ou qualquer outro móvel, além das cadeiras em que seus
algozes e Ele próprio sentavam e uma mesinha pequena na qual repousava um
notebook. Os marginais estavam todos cobertos com máscaras improvisadas pretas
lisas, apenas com o buraco dos olhos e bocas à mostra. Dois deles com armas
apontadas para Ele. Todos pareciam vestir o mesmo tipo de camisa básica de
algodão: preta, marrom e vermelha eram as dos sujeitos que vieram no carro com
Ele. Um quarto elemento se uniu aos outros vestindo a camisa cinza. Cercado
pelos meliantes, Ele mais uma vez suplicou: “por favor, não me machuquem. Farei
o que estiver ao meu alcance para ajudar vocês”. O de camisa cinza tomou a
iniciativa e foi logo dizendo: “se você cooperar estará a caminho de casa, para
os braços da sua linda esposa e do seu filho prestes a completar um ano, ‘né
isso’, em poucos minutos. E ninguém vai se machucar”.
O capítulo 6 será publicado na próxima segunda-feira, pontualmente, 8:00
Capítulo
1
Ele
saiu da aula de pós graduação no horário costumeiro. Deixou o prédio da
universidade, alcançou a rua e se dirigiu até o carro. Tinha parado o veículo
mais distante dessa vez, já que, como havia se atrasado na chegada, não haviam
mais vagas disponíveis próximas ao prédio da instituição de ensino. A rua ainda
estava movimentada: a maioria dos cursos de pós graduação acabavam no mesmo
horário, 22h15. A cerca de 10 metros do carro seu celular tocou. Colocou a mão
dentro do bolso, pegou o smartphone novo que tinha adquirido a menos de um mês,
estranhou o identificador de chamadas constando “número confidencial”, mas
imaginando se tratar de algum serviço de telemarketing, atendeu. Do outro lado
da linha, uma voz masculina, grave e rouca perguntou se Ele era ele. Ele
respondeu que sim e perguntou quem estava ligando. Neste exato momento, chegou
ao carro: acionou o botão da chave elétrica e quando colocou a mão na porta,
concentrado na voz que falava alguma coisa muito baixo ao telefone, foi
surpreendido por um golpe na cabeça, seguido por um empurrão e uma voz dizendo:
“vumbora, rapá, entra no carro agora!”
Capítulo
2
Ainda
atordoado com a pancada na cabeça e sem entender ao certo o que estava
acontecendo, Ele foi empurrado para o banco de trás de seu carro, juntamente
com um sujeito de camisa vermelha, enquanto outros dois ocupavam os bancos do
motorista e do carona, respectivamente. Todos mascarados. Com um gesto brusco,
o sujeito que estava ao seu lado tomou-lhe a chave do carro e passou para o
motorista, que deu a partida e ganhou a avenida rapidamente. Recompondo-se, Ele
enfim percebeu que o sujeito de trás apontava-lhe uma arma de fogo. Assustado,
começou a pedir calma aos sujeitos, oferecendo tudo que eles quisessem: “Calma,
gente, calma. Eu não vou reagir. Peguem minha carteira, meu celular e o carro
se quiserem. Eu não vou fazer nada...”. De certa forma, ele ainda continuava se
sentindo relativamente calmo. Durante os últimos anos os relatos de assaltos,
“saidinhas bancárias” e sequestros-relâmpagos tinham se tornado rotina entre
familiares, amigos e colegas de trabalho em sua cidade. Toda semana alguém de
seu círculo de relacionamento mais próximo era vítima de algum tipo de roubo.
Mas então algo aconteceu que lhe deixou claro que aquilo não era um assalto
comum.
Capítulo 3
Inesperadamente,
o sujeito sentado ao banco carona sacou uma espécie de capuz da mochila e
passou para o sujeito de camisa vermelha que sentava ao seu lado. O sujeito de
trás pegou o capuz e entregou o revólver para o Carona, colocando o capuz na
cabeça Dele, de uma forma, até, cuidadosa. Em seguida, pegou seus braços,
juntou-os e os prendeu numa algema que parecia ser de um material plástico ou
borracha. Nesse instante, ouviu a voz do Carona falando, provavelmente ao telefone:
“deu tudo certo, estamos com ele a caminho da base.” Ele passou a ficar
preocupado. Não se tratava de mais um assalto padrão como tantos outros que
muitos dos seus conhecidos vinham se tornando vítimas e que estavam tão comuns
na sua cidade cada vez mais decadente e abandonada pelo poder público. Quase
todos seguiam um padrão: levavam celular, dinheiro, ou no máximo, o carro, mas
a integridade física das vítimas permanecia ilesa. Mas aquela sua situação ia
demonstrando a cada instante que se tratava de algo diferente. Aos poucos
começou a perceber outros elementos que indicavam que Ele poderia estar diante
de uma quadrilha mais organizada.
Capítulo 4
Envolto
naquele capuz, sem conseguir enxergar nada, Ele passou a ligar alguns pontos. Lembrou-se
da ligação de número confidencial que recebera no momento em que entraria no
carro. Na hora não notou nada de anormal, pois eram relativamente comuns
aquelas chamadas, principalmente de empresas de telemarketing. Mas a voz do
outro lado, além de não se parecer em nada com a voz de agentes de
telemarketing, falou seu nome e depois ficou muito baixa, como se quisesse
distrai-lo com o sussurro. Somando-se a isso a aparente educação e forma de
falar dos sujeitos, mais correta e formal do que Ele julgava que seria o perfil
padrão dos meliantes da cidade. E agora, a peça mais estranha do quebra-cabeça:
“vamos leva-lo pra base”. “Meu Deus, do que ele estava falando? Sintonizaram o
rádio numa estação de música pop, colocando-o num volume muito alto e seguiram
o trajeto todo sem dar uma única palavra. Certamente não queriam que Ele
ouvisse sons vindos da rua, que pudessem identificar pontos pelo caminho. Ele
até que tentou contar curvas à direita e a esquerda e o tempo que permaneceram
rodando, mas acabou se perdendo. Cada vez mais apreensivo e com muito medo do
que os próximos minutos lhe reservariam, percebeu que o carro parou. O rádio
foi desligado e ouviu a voz do carona dizendo: “Chegamos”.
Capítulo 5
Ele
foi levado ainda encapuzado para o interior de uma casa. Tentando ficar atento
a todos os detalhes, sentiu cheiro de mato, percebeu que não subiram elevador e
ouviu o latido de cachorros ao longe. Dentro da casa, depois de alguns passos,
foi colocado numa cadeira quando ouviu uma voz dizer. “OK, pode tirar o capuz”.
Ao voltar a enxergar, se viu diante do seguinte cenário: estava num pequeno
cômodo, sem janelas ou qualquer outro móvel, além das cadeiras em que seus
algozes e Ele próprio sentavam e uma mesinha pequena na qual repousava um
notebook. Os marginais estavam todos cobertos com máscaras improvisadas pretas
lisas, apenas com o buraco dos olhos e bocas à mostra. Dois deles com armas
apontadas para Ele. Todos pareciam vestir o mesmo tipo de camisa básica de
algodão: preta, marrom e vermelha eram as dos sujeitos que vieram no carro com
Ele. Um quarto elemento se uniu aos outros vestindo a camisa cinza. Cercado
pelos meliantes, Ele mais uma vez suplicou: “por favor, não me machuquem. Farei
o que estiver ao meu alcance para ajudar vocês”. O de camisa cinza tomou a
iniciativa e foi logo dizendo: “se você cooperar estará a caminho de casa, para
os braços da sua linda esposa e do seu filho prestes a completar um ano, ‘né
isso’, em poucos minutos. E ninguém vai se machucar”.
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