GLOBO DE OURO PAUTADO PELO PROTESTO CONTRA ASSÉDIO E O MIMIMI DO MIMIMI


No último domingo aconteceu a 75o cerimônia de entrada do Globo de Ouro, premiação da Associação dos Correspondentes Internacionais dos Estados Unidos, para as melhores produções de TV e Cinema daquele país.

A cerimônia de ontem foi peculiar: por ser o primeiro evento relevante da temporada de prêmios, desde a eclosão de denúncias de assédio na indústria do cinema nos últimos 3 meses, a solenidade foi marcada pelo protesto e por discursos engajados.

Quase todas as mulheres vestiram preto e os homens usaram um broche em apoio à causa. 

Assisti a cerimônia do início ao fim e sim, dessa vez o engajamento ofuscou as produções artísticas ali premiadas. Nada mais natural, ao meu ver, uma vez que se trata do primeiro grande encontro dos protagonistas de uma indústria que foi sacudida pela divulgação de episódios de assédio em série.  Porém, como virou prática nos últimos tempos, tudo que ganha projeção tem seu contraponto e logo começaram as reclamações nas redes sociais do Brasil do caráter de “vitimimimismo” da solenidade. A propósito, adorei a união da palavra “vitimismo” com a expressão “mimimi”... Mas acho que também está acontecendo uma grande e desproporcional mimimi justamente por parte de quem adota um discurso que o vitimismo está exagerado, que o mundo está muito fresco e que tudo agora é motivo de reclamação.

Ora, se há um pouco de verdade no fato de que a ideologia politicamente correta frequentemente passa do ponto, patrulhando pessoas além do que seria aceitável e exigindo da sociedade em geral uma conduta fora dos padrões da realidade, também me parece um fato de que a reação “antipoliticamente correta” tem sido, no mínimo, à altura. Se de um lado é muito fácil problematizar campanhas publicitárias, frases ditas em entrevistas, atitudes naturais que, a princípio, não seriam tão graves assim, o antipoliticamente correto também está problematizando tudo!


Poxa, as denúncias surgiram há pouco meses. O debate está na mesa, é a pauta do momento. Todo mundo sabe que o assédio sempre existiu. Sempre ouvimos falar do famoso “teste do sofá”. É uma realidade que precisava vir à tona. Por que não, inclusive, ampliar o debate? Como parece que está acontecendo nos Estados Unidos, já que não ficou restrito ao assédio de homens contra mulheres mas também em relação a gays. Vide a repercussão dos casos de assédio do agora homossexual assumido, Kevin Spacey. Será que surgirão vozes da classe artística brasileira a fim de tocar nessa ferida? E nas divisões de base dos clubes de futebol? Não se deveria também colocar em pauta o assédio que os garotos sofrem de técnicos e dirigentes?

Pois por mais que ainda exista quem argumente que do outro lado da moeda há, por exemplo, mulheres que se utilizam da sedução para conseguirem espaço e papéis (foi um dos argumentos que vi, sempre por parte de homens, diga-se de passagem), certamente o número de pessoas atingidas de forma negativa é muito maior. E se o assunto veio à tona e virou pauta nos últimos meses, qual o problema das atrizes se aproveitarem do primeiro evento do ano para ressoarem sobre a causa com seus discursos emocionados e indignados? Incomodar-se com isso é muito mimimi... O mimimi do mimimi!

fonte da foto: https://conteudo.imguol.com.br/c/entretenimento/90/2018/01/08/oprah-winfrey-fez-um-discurso-emocionante-no-globo-de-ouro-2018-1515385817545_v2_900x506.jpg

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