O FIM DA AXÉ MUSIC
A Axé
Music já teve seu fim decretado algumas vezes. Talvez tenha acabado realmente
há mais tempo. Talvez, nunca acabe. Mas um fenômeno esse ano me chamou atenção
mais especificamente: 4 dos principais nomes da Axé Music se distanciaram do
movimento que batiza a mistura de ritmos que conhecemos como AXÉ.
Ivete
e Claudinha lançaram músicas e clipes explicitamente tentando pegar carona na
onda Reggaeton + Funk. Estão procurando um espaço na bem sucedida estratégia de
guerrilha empregada por Anitta em 2017, que se manteve no topo das paradas e
dos assuntos mais comentados lançando músicas e clipes super bem produzidos em
sequência.
Eu,
particularmente, não gosto da linha de canções que compõem o repertório de Ivete
desde sempre, mas ela é uma artista à parte, grande cantora de carisma ímpar.
Até pouquíssimo tempo atrás e durante muito tempo a maior artista do país; acho
que finalmente foi desbancada por Anitta.
Claudinha
parece estar, na minha visão de compositor e ouvinte, meio perdida de como se
manter viva nesse mercado pop. Suas apostas nesse novo tipo de sonoridade não
soam autênticas. E por isso ficam parecendo um subproduto, uma carona mesmo do
que está dando certo.
Outros
dois dos maiores veteranos da música baiana também deram sua contribuição pra
sentença de morte do Axé. A música de trabalho de Durval Lélis (em parceria com
Claudinha) é um funk carioca. Confesso que fiquei meio constrangido quando
ouvi. Fica muito evidente a busca desesperada por fazer algo que os mantenha no
mercado, porém sem identidade alguma, por mais que Durval sempre tenha flertado
com o pop e com o público de turistas do sudeste durante toda sua carreira.
Por
fim, temos Bell Marques, ícone maior do Axé com seu projeto “Bell Só As
Antigas”. Tudo bem que Bell é um veterano, tem uma história grandiosa e não
precisa provar mais nada pra ninguém. Também é fato que grandes nomes da música
mundial, mesmo os maiores de todos os tempos, sobrevivem de hits construídos em
torno de 10 anos. Com raríssimas exceções como o U2, pop stars veteranos vivem
dos clássicos que construíram no auge de suas carreiras. É assim com Paul
McCartney, Rolling Stones, Gun’s Roses, Mettalica, Iron Maden, Madonna, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Alcione, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, etc... Porém
a grande maioria continua produzindo músicas novas (mesmo que irrelevantes no
mercado) e tocando algumas delas nos seus shows. O que chama atençãoo é que
Bell esclarece: “SÓ” As Antigas. Você não terá chance de ver nenhuma tentativa
de música nova aqui. Pelo menos ele é sincero.
Que
fique claro que não se quer aqui fazer uma crítica ao trabalho desses artistas.
Estão ralando, trabalhando, tentando sobreviver da forma que dá, num cenário de
crise econômica que atingiu todos os setores. Ainda é um momento de transição
da música. O fim da indústria e da música como um produto físico a ser vendido
ainda não foi superado. Tenho grande admiração por esses artistas. Estão
tentando e tentar é o que importa. Deus me livre ser confundido com um crítico de
música. Não sou nem quero ser. Me interessa mais refletir sobre o movimento que
esses artistas estão fazendo em relação à chamada Axé Music.
E se
esses os artistas consagrados tiveram esse distanciamento recentemente, o que
anda acontecendo de novo?
Como
está a nova geração que poderia sustentar o movimento Axé Music?
Confesso
que não tenho nenhuma condição de notar o que está acontecendo na base, na
periferia, nas comunidades. Não sei se algo pulsante e revigorante está
nascendo.
Minha
impressão é estar vendo mais do mesmo em relação aos artistas que poderiam
renovar o cenário: Saulo e o Jammil de Levi Lima, para mim, são os trabalhos
mais sólidos e autênticos. Há um caminho por aí, mas ainda sinto que falta
algo. Como compositor e cronista continuo achando que falta letra, discurso,
conteúdo. Não é a toa que o artista mais interessante que surgiu na Bahia nos
últimos anos é a Baiana System. Da Baiana vemos jornalistas interessados em
falar, em conhecer. São pauta. Justamente, porque têm conteúdo. Daniela Mercury
parece ter sacado um pouco disso na sua última música de trabalho, “Banzeiro” acompanhada de um clipe com
discurso também.
Talvez
nosso momento político-econômico-social esteja propício para isso: músicas
engajadas, conteúdo relevante, de debate, de reflexão, de protesto. E não
precisa ser chato. Pelo contrário. É divertido. Pode ser irônico, sarcástico.
Intenso.
Acho,
muito humildemente, que a Baiana System está apontando a direção para todo
artista baiano que queira se destacar no cenário da música pop nos próximos
anos.
fonte da foto: https://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2016/12/a-origem-do-axe-music-genero-musical-brasileiro.jpg
O axé não viveu ou não teve forças o suficiente para virar uma pura pornofonia, quem sabe alguém o ressuscite e o transforme nisso, como fizeram com o funk e o brega de pernambuco.
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